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08/01/2019
Em meados de 2002, eu era uma Jovem Advogada sonhadora mas já estressada com a realidade da Advocacia. Nesta época lembro que meus pais com muito orgulho da filha advogada viviam me indicando clientes, ou melhor, pessoas que queriam ajudar através de mim.
A pedido do meu querido pai, aceitei patrocinar um processo no qual as partes foram vítimas de um acidente de trânsito em outra cidade. No dia do sinistro, o proprietário do veículo causador do acidente, não prestou socorro e nem tão pouco atenção à vítima e sua família.
Em respeito ao meu pai e àquelas pessoas, que não dispunham de recursos para custear os honorários, aceitei o encargo de trabalhar naquele processo como pro bono, ou seja, sem cobrar honorários. Hoje compreendo que naquele momento dava início a uma relação de advogada e cliente, em desequilíbrio ao princípio sistêmico de dar e receber.
O processo se arrastava no tempo, e eu me sentia insatisfeita e frustrada, pois recebia apenas a cobrança dos autores, os quais me culpavam por não resolver o processo. E não só passaram a demonstrar raiva, como eu também.
Foram muitas idas e vindas de ofícios para outra cidades e cada uma delas demorava muito para retornar. O processo de certa forma também estava na ressonância de tensão.
Passados quase duas décadas, no ano de 2017 eu consegui penhorar um pequeno lote urbano do Requerido. E com isto a parte contrária, enfim, constituiu uma advogada para interpor embargos.
Eu então, resolvi entrar em contato com a advogada para tentar uma composição. Para a minha surpresa, a advogada era parente da parte contrária e, segundo ela, estava fazendo um favor. Ela me relatou que seu cliente estava doente, vivendo apenas com o benefício previdenciário, perdeu a pequena empresa, separou-se da esposa e estava em depressão. Naquele momento senti que, de certa forma, o Requerido experimentava as consequências sistêmicas do conflito não resolvido.
Como o tom da conversa era leve e focado no conflito humano, eu expliquei para a advogada, que no meu entender, a dor dos meus clientes não estava ligada tanto na indenização, mas em especial no fato de que o causador dos danos não demonstrou preocupação ou, como minha cliente dizia, “nenhuma consideração, nem para saber se tínhamos morrido”. Após a nossa conversa, o Requerido ofereceu uma proposta, a qual honraria usando parte do seu benefício previdenciário.
Levando em consideração todo o contexto processual e pessoal das partes, e o risco da garantia obtida com a penhora, falei com minha cliente que a outra parte estava disposta a reparar, ainda que de forma insuficiente, o dano causado. Mais uma vez lá estava eu tentando ajudar, desta vez os dois sistemas. A resposta veio: “Você é minha advogada ou dele”, “Você está defendendo ele”, “ele tem que pagar pelo que fez”.
Naquele momento, ao receber o impacto daquelas palavras, me vi novamente fora do meu lugar e sofri os impactos do que chamamos nas Constelações Familiares de Ordens da Ajuda.
Senti que meu valor não foi reconhecido e entendi de forma dura quanto desequilíbrio foi gerado quando resolvi patrocinar a ação sem cobrar pelo meu trabalho.
Me coloquei numa posição superior, de salvadora, e meus cliente na posição de incapazes, crianças. Após muita reflexão, e ajuda da amiga Bianca Pizzatto, resolvi tomar uma decisão, renunciar esse papel de lugar dos pais deles. Com isso me senti leve e dei à eles a responsabilidade pelo que lhes cabia.
Com este relato, meu objetivo é que você observe se já passou por situações semelhantes e como tem exercido seu papel, em que lugar?
E como nada é por acaso, alguns dias depois atendi uma cliente, advogada, que reclamava por não conseguir clientes que pagassem pelo seu trabalho. Perguntei para ela qual era seu propósito, ela me respondeu: “quero ajudar as pessoas, na verdade, quero cuidar dos clientes”, naquele momento fizemos uma reflexão, “os filhos pagam para os pais?”, resposta: Não! Então, como quer receber nesta posição.
Nós, advogados, também somos considerados “ajudantes”, e assim nesta função, precisamos estar em simetria e respeitar o sistema de cada cliente, livres de pré-julgamentos, intenções e emoções.
Então, o essencial acontece.
Em um dos grupos perguntei o que é ajudar? E obtive algumas respostas:
Mas o que realmente significa ajudar? Podemos aprender ou exercitar habilidades de ajudar?
Somos seres relacionais e precisamos uns dos outros para sobrevivência individual e do sistema, neste sentido consideramos que a ajuda mútua é essencial para a vida.
Queremos compensar o que recebemos? Sim. Muitas vezes a intenção em ajudar se mostra como uma forma de compensação ou necessidade de algo que falta no nosso sistema, como: amor, reconhecimento, sentir-se competente, ter sentido, pertencimento.
E nesse sentido observando o primeiro e segundo exemplos, “suprir as necessidades” e “cessar ou reduzir o sofrimento”, podemos observar várias questões que podem estar relacionadas com o sistema de origem do ajudante. Podemos pensar quais necessidades ele acredita que não lhe foram supridas por seus pais e ele busca nos clientes? O que faz ele acreditar que pode cessar o sofrimento de alguém, depende de quem? A quem ele quer salvar? Se tenho esta intenção estou no papel de quem?
São muitas possibilidades dentro de uma única frase e para isso devemos estar atentos à nossa própria linguagem e à do cliente, entendendo quais crenças e padrões estão por trás do que está sendo comunicado.
Segundo Bert Hellinger devemos observar as seguintes Ordens da Ajuda:
E para praticar esta forma de ajudar, isenta de intenção, podemos praticar as seguintes habilidades:
Referência:
Hellinger B. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações familiares. São Paulo:Cultrix; 2003.
Advogada. Mestre em Arts in Coaching pela FCU (Flórida Christian University);
Formação com CertificaçãoInternacional em Meta-Coaching (A Maestria do Coaching), pela ISNS – International Society of Neuro- Semantics com Ph.D Michael Hall;
Formação com Certificação Internacional Master Trainer em Programação Neurolinguística pelo INAP;
Formação com Certificação Internacional em Master Coach Sistêmico pelo Metaforum com reconhecimento pelo ICI , ECA, e Associação de Coaching da Alemanha – Com Bernd Isert e Sabine Klenke;
Formação com Certificação Internacional em Personal & Executive Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching;
Formação com Certificação Internacional em Constelação Sistêmica Cornelia Benesch e Artur Tacla pelo Metaforum Internacional;
Formação com Certificação Internacional em Consultoria Sistêmica pelo Metaforum Internacional com Gunther Fürstberger, Tilman Peschke e Guillermo Echegaray sob a Visão sistêmica dos sistemas de liderança, desenvolvimento organizacional e gestão de mudança;
Coaching Quântico pelo Metaforum Internacional com reconhecimento internacional pelo ICI , ECA ; Coaching Genius – The International Society of Neuro-Semantics;
Analista Comportamental com Formação em Assessment I (Disc e Valores) pela Success Tools;
Analista Comportamental |SOAR pela FCU – (Flórida Christian University);
Formada em Psicologia Positiva pelo Metaforum;
Coordenadora e Coautora do Livro Coaching para Advogados;
Coautora do Livro Treinamentos Comportamentais;
Tutoria de Coaching na Comissão da Jovem Advocacia OAB Sé SP;
Presidente da Comissão de Direito Sistêmico da Subseção OAB/Lapa SP.
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